sábado, 27 de outubro de 2012

Círio Musical

Foto Fundação Nazaré
As noites de outubro não são mais as mesmas desde 2004. Não, não estou falando de algum acontecimento apocalíptico, na verdade, é algo bem longe disso. Falo do Círio Musical, realizado no CAM em Belém durante 15 dias do mês de Outubro, com o objetivo de favorecer os cantores católicos. Esse ano arrastou público recorde de pessoas. Uma importante vitória para os organizadores da festa.

São várias atrações que começam no segundo domingo de outubro e terminam 15 dias depois, com muita gente e muitos fogos. Tudo isso começou há oito anos, com somente três atrações, pouco equipamento e muita vontade de fazer funcionar. E funcionou. Hoje já não se fala mais em Círio de Nazaré sem pensar em Círio Musical. Tornou-se uma atração a mais. “O Círio Musical surgiu com o objetivo de atingir o público jovem, mas é claro, também tem shows para a família, criança e todas as idades” conta Elena Shalom, uma das idealizadoras do evento. E é isso que todos vêem ao ir prestigiar as atrações. Os jovens realmente se identificaram com o evento. E nem importa se a sua religião é outra, pois é como a frase diz: “A fé une as pessoas”.

E é nesse ritmo de alegria que mais um Círio vai terminando. Nos despedimos novamente dessa festa que deixa muitas saudades e bons momentos em família e amigos. Mas se ainda não teve tempo para curtir, não esqueça que o Círio musical irá até o dia 28 de outubro (domingo) com o show de Eros Biondini. Não vai perder essa chance, né? Afinal, nunca se sabe quando o mundo pode acabar.

Texto de Fábia Sepêda

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Horário de confusão

“Começa o horário de verão em 11 estados e no DF”. É assim que muitas manchetes anunciaram o horário de verão que começou no último domingo, 21. Desse jeito, como se não afetasse o todo Brasil, cujos habitantes, mesmo quem não adianta o relógio, como os paraenses, são obrigados a mudar a rotina.
Para quem vive fora do Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Distrito Federal e Tocantis – e isso contabiliza cerca de 98 milhões de pessoas no Brasil - o horário de verão vira horário de confusão. Por estarmos perto da Linha do Equador, a duração dos dias é estável ao longo do ano, ou seja, não há período em que o dia seja mais longo do que a noite, como é o caso dos locais que aderem ao horário de verão. Por isso, não é prático adiantar uma hora no relógio por essas bandas, já que não economizaria energia e, portanto, não adotamos o horário – na teoria. Na prática, a coisa é diferente: os horários da televisão nacional, dos bancos e dos aeroportos são adiantados em uma hora para a gente também; e até as provas como a do ENEM, de concursos nacionais e faculdades a distância se antecipam para quem mora nas regiões mais altas do mapa do Brasil.
O problema é que os horários de trabalho, estudo e lazer local continuam os mesmos e a vida aqui vira uma bagunça. Somos, mais uma vez, obrigados a nos adaptar aos moldes das regiões “centrais” do Brasil, complicando nossos horários e praticamente somos esquecidos.
Para aqueles que vivem transitando daqui para lá, o tempo todo, como empresários, comissários de bordo, pilotos etc, o problema é bem claro. Eles têm que se programar para ir mais cedo, já que a maioria dos voos utiliza o horário de lá, seja indo ou vindo, e ainda sofrem com mudanças físico-biológicas devido ao fuso horário.
Aqueles que não saem daqui todos os dias também sofrem com essa diferença. Por exemplo, os horários dos bancos - até mesmo o do Banco da Amazônia – utilizam o horário de Brasília na nossa região. Isso afeta não só os clientes, que precisam se reorganizar porque o banco fecha uma hora mais cedo (principalmente afetando aqueles têm que ir ao banco todos os dias), como afeta os funcionários, que precisam ir mais cedo para o trabalho.
E para quem têm que passar por uma prova de nível nacional, nem se fale. Quem vai fazer ENEM, tem que se programar, inclusive psicologicamente, para fazer uma prova enorme e cansativa às 13h num horário de 12h, lidando com um trânsito diferente deste para aquele horário, um calor diferente, além dos hábitos de almoço, descanso e estudo. O mesmo vale para quem fará provas de concurso e/ou de faculdades a distância.
Por último, não menos importante, e o mais evidente, é a reprogramação da televisão. Os canais ao nível nacional, ignorando os estados que não aderem ao horário de verão, também adiantam a programação, o que faz confusão na vida de muita gente que depende de um programa não apenas para lazer, mas como para estudo e para quem utiliza a TV para análises sociais seja a serviço ou para um TCC, por exemplo, ou trabalha com a interação TV/internet.
Não levemos a mal. O horário de verão é uma ótima e inteligente medida que dá resultados, realmente. Uma ideia que só poderia ser obtida por um gênio que foi Benjamin Franklin (sim, aquele cuja pipa foi atingida por um raio e, assim, inventou a luz elétrica). O que é injusto e irresponsável é esse modo pelo qual se desconsideram as especificações das regiões do Norte e Nordeste, já que, atualmente, existem tecnologias e meios de comunicação suficientes para lidar com as diferenças espaço-temporais e não ir pelo jeito mais fácil que é a generalização.
A começar, no Pará não existe verão. Na verdade, não existem nem estações, apenas dois períodos climáticos: estiagem e período de chuvas. Então, ser atingido pelo “horário de verão” é obviamente algo fora da nossa realidade, completamente abstrato e complicado. É uma falta de consideração que confirma o pensamento de que o Brasil é apenas Centro-Oeste para baixo.
Já faz 81 anos desde o primeiro horário de verão neste país e ainda sofremos com essa discriminação. Precisamos nos reprogramar ao tempo de fora, o que atrapalha todo o funcionamento das atividades corriqueiras dos cidadãos nortistas e nordestinos.
Essa é mais uma prova do descaso do “centro” do país em relação à “periferia”. É uma padronização e mais uma vez caímos no esquecimento do restante do Brasil. Para mudar a situação, é importante debater mais o assunto e deixar de tanta aceitação. Já passou da hora de o país deixar de insistir em mostrar a cara e lembrar que, na verdade, é multifacetado. Precisa-se reconhecer as especificidades de cada região e levá-las em conta. Hora de os sistemas ditos “nacionais” lembrarem de quem está aqui em cima e, portanto, deixarem de “roubar” uma hora de nosso dia, porque ela não é recompensada no cotidiano e caímos num horário de confusão.

Texto de Alice Martins Morais

Fonte da imagem: Adoro Farra.

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Círio de Nazaré: fé e tradição


Foto de Sérgio Ferreira.
Domingo, trânsito alterado, principais vias fechadas, uma cidade toda iluminada e com um perfume característico. Dinâmica bastante conhecida pelos paraenses no período mais esperado do ano: O Círio de Nazaré, que reuniu aproximadamente 2 milhões de pessoas.
Na frente da Igreja da Sé, os peregrinos estavam à espera da procissão, que segundo a Diretoria da Festa, é a maior reunião católica do mundo. Após a missa e a bênção final, o arcebispo metropolitano Dom Alberto Taveira conduziu a imagem peregrina até a berlinda, dando início à procissão que percorreu 3,6 km pelas ruas da cidade, recebendo inúmeras homenagens até chegar à Basílica Santuário.
Faixas, fogos de artifício e chuva de papel picado foram algumas das homenagens a Nossa Senhora de Nazaré. E em um dos momentos mais marcantes, uma chuva de pétalas de rosas brancas e amarelas caía sobre a berlinda e os promesseiros, que seguiam em procissão. Uma cena incrível.
A berlinda que levava a imagem, parava em alguns pontos para receber mais homenagens. Estavam lá, personalidades do Pará e de outros estados como Dira Paes, Elba Ramalho, Padre Zezinho e Padre Fábio de Melo. A cantora Fafá de Belém marcou presença e emocionou com sua voz, cantando “Eu sou de lá”. O cortejo seguia com a Berlinda atrelada à corda, que era puxada pelos romeiros.
“Sou de Macapá, vim para agradecer uma graça alcançada e voltarei outras vezes a Belém para continuar agradecendo o pedido, pois nada me impede de sair do meu estado para vir ao Círio”, comentou o promesseiro Fabrício Moreira, de 34 anos, que ia na corda. E reforçou: “É muito cativante estar aqui, pessoas que nós não conhecemos, que nunca vimos, nos ajudam, todos estão aqui com único objetivo”.
Para ajudar os promesseiros da corda, os que caminhavam com peças de cera e os ajoelhados sobre os pedaços de papelão que eram postos no chão para amenizar a dor durante o percurso, a Cruz Vermelha agia, prestando-lhes socorros. “Os desmaios são frequentes. Muitas pessoas que estão aqui desde cedo e que não se alimentaram corretamente, acabam passando mal; e é o nosso dever enquanto Cruz Vermelha ajudá-las e isso para mim é muito gratificante”, relatou Gisele Duarte, 17 anos, voluntária da Cruz Vermelha.
Cidadãos comuns também colaboraram com o Círio distribuindo água: “Entrego água no Círio há dez anos. Foi por causa de uma promessa que fiz. A graça foi alcançada e eu continuei dando água até hoje. Virou tradição. Uma senhora passou ajoelhada, estava pagando uma promessa e eu entreguei água a ela. Fiquei muito emocionada”. Disse Inês Lobato Teixeira, 59 anos, engenheira.
A Defesa Civil e outros órgãos também atuaram. Ambulâncias foram colocadas nos corredores de emergência, tudo previamente planejado para o Círio caminhar bem e para os fiéis estarem seguros e amparados.
E quando a procissão se aproximava da Basílica, a corda começou a ser cortada, mostrando que a campanha “Não corte a corda” funcionou. E os participantes desta grande festa puderam levar como recordação, um pedaço da corda, elemento que foi introduzido na festividade como auxílio à procissão e hoje é um dos maiores símbolos dessa grande celebração de Fé.
A imagem de Nossa Senhora de Nazaré chegou por volta das 12h30 e foi levada pelas mãos do Arcebispo de Belém ao altar arquitetônico para dar início à Missa de encerramento da procissão.

O Círio e sua história:
O primeiro Círio foi realizado em 8 de setembro de 1793 e não em outubro como estamos acostumados. Acontecia à tarde, mas algumas mudanças no decorrer do tempo foram feitas, dando-lhe as características e o período conhecidos hoje.
O presidente da Província do Pará, Francisco de Sousa Coutinho, decidiu, ainda em 1791, que no segundo semestre de 1793 aconteceria uma feira de produtos agrícolas, no mesmo período em que os devotos fariam homenagens a Virgem de Nazaré.
Em junho de 1793, o presidente adoeceu e teria prometido que se fosse curado, faria uma procissão do Palácio do Governo até à ermida onde ficava a imagem da santa. Coutinho, com a saúde recuperada, cumpriu a promessa e no dia 8 de setembro do mesmo ano a procissão foi realizada, contando com a presença de 2 mil soldados e devotos.
O primeiro cortejo passou pelo mesmo percurso feito pela santa, que foi encontrada pelo caboclo Plácido, às margens do igarapé Murucutu. Conta a história, que Plácido levava a imagem para casa, mas ela insistia em voltar ao igarapé onde foi encontrada. Ali, então, foi construída uma capela, hoje Basílica Santuário.
Ao longo dos anos, houve adaptações. Uma delas ocorreu em 1853. Devido a uma chuva torrencial, a procissão – que ocorria à tarde – passou a ser realizada pela manhã. E a partir do ano de 1901, por determinação do bispo Dom Francisco do Rêgo Maia, a procissão passou a ser realizada sempre no segundo domingo de outubro.
A tradição de ir e vir da imagem de Nossa Senhora de Nazaré foi mantida até hoje. Durante o sábado de Trasladação, a imagem peregrina vai do colégio Gentil até a Catedral Metropolitana de Belém e retorna de lá para a Basílica Santuário no domingo do Círio.

Texto de Emanuele Corrêa e Hojo Rodrigues.

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Farinha do mesmo saco

                                                  FotoLeônidas Dias/Newton Corrêa 
No poder, um liberal é um conservador e um conservador é um liberal. Eis o fantástico elemento homogeneizador de ideologias: essa promiscuidade profana que é a Política. Lá em cima, mandando e desmandando, são todos rigorosamente iguais. Mesmos ideais, mesmas atitudes, até as mesmas barbas.
Direita e esquerda – e coluna do meio, diria certo governante – só se distinguem fora desses círculos. Criticando o Governo e lutando para colocar ali um dos seus, prometendo grandes ações como “nunca antes neste país”. E aquela do peixe que sempre cai na mesma armação da minhoca no anzol continua sendo a anedota que melhor ilustra o eleitorado brasileiro.
Afinal, são sempre as mesmas promessas, as mesmas negativas, as mesmas trocas de acusações, desabafos e desaforos. Basta seguir o mesmo script que já levou tantas pessoas ao poder. O marketchim é quase desnecessário. E continuamos votando, sempre. Chega-se a perguntar quais discernimentos são adotados pelo eleitor para preferir um ao outro? Porte físico e/ou estético? Grau de instrução? Experiência profissional (e política é a profissão das mais duradouras neste país)? Alguma “coisa” mais parcial e menos honesta, como juras de cargo? Cestas básicas?
— Vou criar 10 milhões de empregos!
Ah, sim!
— Vou promover as reformas tributárias, política e agrária!
Sim, sim! O adversário sugeriu o mesmíssimo.
— Irei enxugar essa carga tributária que arrasa os microempresários e empenhar-me-ei para aumentar o salário-mínimo pra R$ 1.000,00!
É impressionante a sensibilidade de um político quanto aos problemas sociais que, estranhamente, desaparecem quando ele chega lá. É um roteiro passado de mão em mão, há gerações, seguido na íntegra por candidatos no primeiro mandato, na reeleição, em outro mandato qualquer, por aliados e adversários, dos dois poderes que importunam o cidadão com a imposição do sufrágio. Prometer o que não se pode cumprir e jurar o máximo de fidelidade ao eleitorado, na maior cara-de-pau que se puder fazer. Um pouco de carisma, talvez, também ajuda. Contudo não há muito segredo.
Muitos de nós somos a “massa”, o rebanhão perdido que não sabe para onde ir. Nossas escolhas parecem basear-se em decisões parecidas a “com qual pé me levanto da cama hoje?”. Não há como saber quem é o mentiroso, a não ser, é claro, quando um dos candidatos estiver concorrendo à reeleição. Ali, encenando e pedindo votos sob as luzes da ribalta, o político pode apresentar a melhor das boas intenções em estado bruto. Todos os seus juramentos, por mais absurdos que possam parecer, são plausíveis - quase acreditáveis e conscientes – desde que não vença a competição e não assuma o cargo pretendido, pois, daí, é outra história.
Mas o voto em branco, antigamente um mero trocadilho, “Não vote em branco, vote em Grande Otelo!”, hoje está na moda. E a abstenção está com tudo! Ou, talvez, a solução seja adotar a proposta do mestre Millôr Fernandes e incluir nas urnas eletrônicas uma quarta tecla (ou no lugar da primeira) “Vá à m...” que capture a expressão de quem queira protestar, evitando-se, assim, que se elejam inoportunos e oportunistas.
As campanhas de “voto consciente” promovidas pelo próprio Governo às vésperas das eleições são pretensiosas. Desejam conscientizar-nos de que sejamos criteriosos ao votar, sabendo, porém, que não existe critério consciente algum para isso – o prático “unidunitê” não conta. No fim, colocamos mais um safado no poder e o Governo ainda se sente na ‘ética e moral’ de nos dizer: “eu avisei!”.
É bom pelo menos avaliar o passado de cada candidato, lembrando que estamos em ano eleitoral. Os antecedentes criminais e políticos, o que fizeram se foram traiçoeiros, principalmente, com os eleitores. Por fim, conhecer bem o candidato antes de votar. E, de preferência, repugnar a reeleição. Sou brasileiro e desisto sempre - do político eleito, claro. No poder, seu candidato será rigorosamente igual ao antecedente. Mas, pelo menos, provamos o gostinho de tirar o emprego de mais um calhorda.
Texto de Tarcízio Macêdo