domingo, 30 de setembro de 2012

Made in Brasil

Todos já ouvimos falar de Harry Potter, Senhor dos AnéisCrepúsculo e etc. Todos já lemos notícias de livros nos topos dos mais lidos do New York Times e autores que ficaram milionários. Já vimos trailers de megaproduções cinematográficas baseadas em uma série de livros. E todos nós sabemos que eles são sempre americanos, britânicos, canadenses, europeus e enfim, estrangeiros. A pergunta é: onde estão os brasileiros? Será que eles não escrevem? Ou será que não são lidos? O fato é que a Literatura Nacional Contemporânea existe sim, só que as pessoas só estão com os olhos ocupados demais no novo best-seller da vez para notá-la.
“É também uma questão cultural (...)” afirma a editora Novo Século, “Podemos observar, na música, nos filmes e seriados, uma supervalorização do que vem de fora.” E é verdade. O brasileiro sempre achou que o estrangeiro é melhor que ele. O brasileiro é o típico cara que mima o gringo, canta músicas em inglês sem saber o que significam e podem pagar uma nota por um filme hollywoodiano, mas não dão o terço do valor por um nacional. Que dirá livros? Logo ele, que nem de ler gosta.
Segundo pesquisa do Ibope Inteligência, a média de livros lidos por ano pelo brasileiro é de 1,85. Uma vergonha se comparado à média europeia de 8 livros por ano. Ocupamos a 27º colocação mundial em hábito de leitura e perdemos, inclusive, para nossa vizinha Argentina que está em 18º.
Mas calma. Não se desespere. Nem tudo são cravos. A nossa esperança é, como sempre, a juventude. Aproximadamente 50% dos leitores brasileiros são formados por jovens entre os 5 e 24 anos de vida. Nessa faixa etária, o número de leitores é sempre superior ao de não leitores, quadro que se inverte à medida que avançamos na idade. Pegue qualquer pesquisa de mercado editorial, o gênero que mais cresce em produção e em vendas é o infanto-juvenil.
Uma grande prova desse interesse da mocidade pela literatura é a jovem escritora Ana Macedo que, aos 17 anos, acaba de publicar seu primeiro livro, Lágrima de Fogo. Quando perguntada sobre o gênero que escreve, Fantasia, a garota acabou por fornecer uma explicação que pode se encaixar muito bem com o motivo do despertar da leitura entre os jovens. Diz ela: “A fase de transição da infância para a vida adulta pede um pouco de magia e aventura. Eu, por exemplo, tenho preferência por esse gênero porque serve como fuga da realidade, ao passo que pode ser, ainda assim, uma grande analogia para os problemas cotidianos e atuais”.
Entende-se por Fantasia qualquer ficção que envolva o imaginário e o sobrenatural, gênero favorito dos jovens leitores e também um dos mais efervescentes do mercado editorial. Três dos cinco primeiros da lista de autores que mais faturaram da revista Forbes, por exemplo, escrevem sobre ele.
Ok. Então os jovens são a camada de leitores que mais lê no Brasil, mas o que eles acham da Literatura Nacional? Muitos, como a maioria dos brasileiros, preferem os importados, traduzidos, com aquele nome difícil na capa. Uma cultura de séculos que é difícil de ser mudada, mas não impossível. Iniciativas como a da editora Novo Século, por exemplo, são mais do que bem vindas: Além de ter mais de 70% de seu catálogo formado por publicações brasileiras, a editora possui o selo Novos Talentos da Literatura Brasileira, que procura dar lugar ao sol, e nas prateleiras, a escritores inéditos. Todos daqui, da terra.
Essa literatura nossa ainda não tem o destaque que merece, mas a evolução nos últimos anos é evidente. Como deixar passar invisíveis os sucessos de A Batalha do Apocalipse, de Leonardo Spohr, Dragões de Éter, de Raphael Draccon, e dos inúmeros livros de André Vianco? Quando poderíamos ver duas paraenses, Roberta Spindler e Oriana Comesanha, ganhar destaque nacional com seu livro Os Contos de Meigan?
O processo árduo da visibilidade que os autores nacionais tanto anseiam já teve seu pontapé, mas ainda há um longo caminho a ser andado. E é preciso contribuição dos próprios escritores, das editoras, das livrarias e, acima de tudo, dos leitores para se chegar a algum lugar. Por fim, que se façam as palavras de Roberta Spindler as de todos “Não vejo diferença entre livros nacionais e estrangeiros. Iremos encontrar obras boas e ruins, não importa a nacionalidade de quem as escreveu”.
Nós conversamos com algumas pessoas, para saber suas opiniões a respeito da literatura nacional e o valor que se dá a ela. Confira.
                                                                                      Edição: Arthur Medeiros, Caio Figueiredo e Jonata Henrique
                                                                                                                         Texto de Arthur Medeiros

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Um mergulho no universo da leitura

                       Foto: Laís Cardoso

O Centro de Convenções da Amazônia, desde o último 21 até o dia 30 de setembro, ficará de portas abertas recebendo as mais de 400 mil pessoas que devem visitar a XVI Feira Pan-Amazônica do Livro, organizada pela Secretaria de Cultura do Pará. Nesta edição, com o tema “Minha Pátria é a Língua Portuguesa”, Portugal é o país homenageado. E para celebrar o centenário do Maestro santareno Wilson Fonseca, o mesmo foi escolhido para ser o patrono do evento.
Além da exposição de 90 mil títulos distribuídos entre os 223 estandes, a Feira do Livro também conta com diversas personalidades literárias, oficinas, bate-papo com escritores paraenses e nacionais, palestras gratuitas e apresentações de grandes artistas.
De acordo com Ana Catarina Brito, diretora da SECULT, a Feira é um evento para todas as idades: “A programação da Feira do Livro se direciona a todo aquele que já aprendeu a ler. E da feita que você aprende a ler, você lê até o final dos seus dias, então é um espaço para crianças, jovens, adultos e idosos”.
Segundo o advogado João Palácios, de 28 anos, o evento é muito mais que uma simples exposição de livros: “Acredito que o principal objetivo seja incentivar o hábito da leitura na população. Além disso, a Feira traz também a oportunidade da gente tomar conhecimento de algumas editoras que a gente não tem acesso frequentemente”. 

Literatura Regional
         Como em edições anteriores, a Feira tem o estande dos escritores paraenses, que divulga o trabalho literário desenvolvido aqui no estado. Juraci Siqueira, professor e escritor, comentou a importância do espaço na Feira do Livro para os escritores da região: “Um local onde tem sempre um fluxo intenso de pessoas é uma vitrine que a gente precisa e isso é muito bom”. No entanto, ao ser questionado se o espaço tem sido suficiente, ele dispara uma crítica: “Não é o que se deseja, pois como a feira é muito grande, acaba se dissolvendo. Pan-Amazônica, na realidade, fica restrita ao nome, pois tem pouca Amazônia aqui”. 

Espaço do Vestibulando
Outro atrativo são os estandes que comercializam os livros de leitura obrigatória das principais universidades públicas do estado. Caminhando entre esses livros, encontramos o vestibulando Deyvid Fernandes, de 18 anos. Para ele, a Feira teve importância fundamental na preparação para a grande prova: “Ajudou bastante porque eu encontrei todos os livros que eu procurava num único lugar. E para quem não tem recursos financeiros, por exemplo, é uma boa, pois os livros são bem mais baratos em comparação aos vendidos por aí.” 

Corre que está acabando
Domingo é o último dia e você não pode deixar de aproveitar a programação da feira. O HANGAR – Centro de Convenções da Amazônia – está de portas abertas de 10h às 22h. Então, o que está esperando? Ande logo! Feche essa janela, desligue o PC, solte o mouse e corra para a Feira Pan-Amazônica do Livro, corra para o universo da leitura. 

Nota: A parte audiovisual da reportagem não pode ser postada por problemas técnicos ocorridos durante o processo de edição. Porém, em breve estará disponível em nossa fan page.

sábado, 22 de setembro de 2012

Sebos: variedades, objetos e histórias

                                                  FotoJuliana Theodoro
O mercado de livros em Belém não é muito grande: não há muitas livrarias, e parte das que há encontra-se dentro de shopping centers. No entanto, existe um mercado alternativo de livrarias, que vem preencher uma lacuna nesse comércio: o de sebos, lugares onde é possível encontrar uma variedade de produtos, que vão desde livros a vinis, que têm muita história para contar.
O primeiro sebo da cidade foi o Sebo do Dudu, pertencente a Eduardo Failache, localizado na Travessa Campos Sales. E atualmente, na cidade, encontram-se pelo menos sete sebos em funcionamento. Há o Cultura Usada, O Relicário, Banca do Zé, Alfarrábio, Sebo Cultural, O Arquivo Cultural e o Acervo Literário; entretanto, existem muitos outros espalhados pela cidade e que funcionam como bancas ou exposição de livros ao ar livre.
Embora haja uma ideia de que o sebo é um lugar onde só são encontrados livros velhos e poeirentos, a situação não é realmente essa. É possível, sim, encontrar obras antigas, mas os sebos também vendem diversas obras em estado novo ou seminovo e por preços bem em conta.
Há algumas compensações de se fazer compras em sebos. Pedro Pinheiro, 34 anos, estudante, enxerga uma delas: “eu vejo que no sebo eu posso comprar muita coisa que eu não encontro em uma livraria”. E, de fato, isso é uma das suas características mais marcantes: a possibilidade de achar nesses locais produtos, os mais diversos, como livros de vários gêneros, quadrinhos de vários anos e editoras, vinis antigos, CDs, DVDs, etc. Outra vantagem é a exclusividade e raridade das obras, uma vez que algumas obras de que os sebos dispõem são já edições esgotadas e antigas, dificílimas de serem vistas em livrarias. A exemplo disso, O Relicário detém uma vasta quantidade de livros que datam do início do século XX, títulos, portanto, raríssimos.
Quanto ao público que procura os sebos, trata-se, geralmente, de compradores eventuais, que vão à procura de algo em específico, mas também há os que vão sem um objetivo certo e compram. Segundo Carlos Lima, 44 anos, proprietário e administrador do sebo Cultura Usada, existente há 19 anos, o público consumidor são “inacreditavelmente, os mais jovens; quem compra mais são os mais velhos; mas quem frequenta mais e compra quantidades pequenas de livros, são os mais jovens”. Anderson Sales, 33 anos, proprietário e administrador do sebo O Relicário, que já funciona há 12 anos, diz que “todo o tipo de pessoas: gente que vai fazer vestibular, intelectuais, colecionadores, curiosos”, sendo os títulos mais procurados “os de filosofia, livros sobre a história do Pará e Amazônia, livros antigos de matemática e cálculo, livros de medicina, de arte, história”.
No entanto, esse mercado apresenta algumas limitações. Ele tem pouca visibilidade, de modo que há um grande desconhecimento a respeito dele, dificultando, assim, a manutenção dessa atividade, cujo mercado consumidor é razoável, mas ainda sim pequeno. Os motivos para tal são diversos. Para Anderson, a responsável por isso é “falta de interesse do público” e continua, dizendo: “às vezes, o ritmo de venda não acompanha a necessidade do negócio”; para Carlos, isso é uma questão “cultural, do prático”, no sentido de que é mais fácil se utilizar da internet como um substituto do livro do que tê-lo “inutilmente”.
E, para tentar remediar essa pouca notoriedade que os sebos têm, esses estabelecimentos criaram diferenciais que certamente atraem a atenção. Por exemplo, o Relicário, tem um clube do HQ; o Cultura Usada promove atividades culturais no âmbito literário, por meio de saraus de poesia e reuniões para a discussão de leituras. Mas, fora isso, frequentar um sebo é uma atividade sempre recompensadora e surpreendente, que, decerto, vale a pena.
                                                                                                         Texto de Sérgio Ferreira.

sábado, 15 de setembro de 2012

Praça da República: Palco de Pluralidade.

                                                   Foto: Laís Cardoso 
A urbanização e a modernização das cidades reconfiguraram os espaços públicos, criando ou recriando os ambientes de encontros e negócios da população.
A Praça da República, em Belém, representa muito bem essa nova configuração.
É reconhecida como uma área livre, que tem uma dinâmica própria, bastante diferenciada e que engloba a “pluralidade”.
Além de sua importância histórica e sua beleza exuberante, é espaço de lazer, de comércio, de reunião e de preservação. Por ser um ambiente arborizado, que propicia aquela sombra nos horários em que o sol é mais forte e faz frente à modernização intensa que a cidade sofre, traz um clima nostálgico a quem passa.
E foi caminhando por ela que a administradora, Ana Rosa Dias Ferreira, 49, que mora há mais de 30 anos perto da Praça da República contou um pouco sobre o que pensa da praça e suas atuais condições: “Eu tenho saudades da praça do tempo da minha adolescência, pois havia bandinhas tocando. Hoje, ela continua bonita, só que passa por problemas, as pessoas não colaboram e acabam deteriorando os patrimônios. Não é só papel da gestão pública de mantê-la bem cuidada, é nosso dever também”.
É notória essa necessidade de a população se sentir mais parte dessa história e mais dona desse patrimônio. Segundo a dona de casa Rosalina de Aquino, 73, a população parece não reconhecer que esse patrimônio é de todos: “Falta aos gestores públicos e à população consciência de preservação. Os gestores de promover ações que valorizem a praça e a população criar um compromisso com este espaço e aí preservar, pois cada papelzinho de bombom que é jogado no chão enfeia a praça.”.
Já o historiador Michel Pinho, 37, acredita que além da reponsabilidade do cidadão e da gestão pública, outras instituições tem muita importância nesse processo de valorização e preservação da Praça: “Penso que a solução não esta prioritariamente no poder público propriamente dito, a escola e a imprensa são poderosos instrumentos que podem fomentar o interesse em conhecer a praça e a cidade”. E sugere uma excelente iniciativa que seria fazer, através de agências de turismo, prefeitura ou estado, walktours – que são passeios a pé que contam a história do lugar - e que desta maneira pudessem partilhar as interessantes histórias que cercam o antigo Largo da Pólvora e a construção do Teatro da Paz”.
A Praça da República é um complexo importantíssimo para a cidade e tem um passado, relativamente recente de um pouco mais de cem anos, levando em conta que a Cidade das Mangueiras tem quase quatrocentos anos. Passado esse, bastante interessante e às vezes nem mesmo conhecido.
A praça já fora um terreno descampado. Na sua extremidade já abrigou um caminho para uma pequena ermida de nossa senhora de Nazaré, hoje, Basílica santuário, e somente no final do século XIX é que o espaço ganhou maior visibilidade com o avanço da economia de exportação da borracha.
A Praça já teve vários nomes, tais como Largo da Pólvora, Praça Dom Pedro II, até chegar ao nome que tem hoje, Praça da República. E foi sob as ordens dos Intendentes Arthur Índio do Brasil, Barão de Marajó, Silva Rosado e Antônio Lemos que foram promovidas os principais melhoramentos, como o calçamento das ruas. E já no início do século XX, sofreu algumas mudanças estruturais, dando-lhe os contornos que tem hoje, reforçando o complexo que é.
Um complexo, de fato, pois, a Praça abriga monumentos históricos, como o Teatro da Paz, o Bar do Parque, o Teatro Experimental Waldemar Henrique, o Núcleo de Artes da UFPA e guarda nas calçadas, bancos e coretos uma parte constituinte da cidadania. O historiador Michel Pinho contou uma curiosidade da Praça, que não se vê mais hoje: “Hoje as mangueiras provenientes da Ásia, dominam o cenário, mas seria difícil de imaginar que a praça já foi arborizada por lindos taperebazeiros” finaliza.
Enfim, a Praça é um local de pluralidade. Pluralidade esta que se estende ao público que a utiliza e as formas de comércios que ela possui, e que pode se percebido, mais claramente, aos domingos, quando hippies, punks, evangélicos, dançarinos de break e voluntários de Ong’s de animais domésticos, circulam pelo mesmo espaço, entre outros públicos, que passeiam pela feirinha montada na calçada, onde se vende desde artesanato a comidas típicas da região. Afinal é a Praça da Republica, a praça de todos os públicos.
Texto de Emanuele Corrêa

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Orgulho de ser brasileiro

                                                  Foto: Laís Cardoso 
Brasileiro é um povo rico. Isso é incontestável. Reclamamos de nossos salários, que nunca duram até o fim do mês, mas não percebemos quanto dinheiro temos de sobra. Todos os anos, pagamos mais de 7 bilhões de reais para bancar nossos parlamentares do Congresso Nacional  com seus 15 a 19 salários mensais, ajudas de custo, verbas indenizatórias e de gabinete, auxílio moradia, cotas de gasto com passagens aéreas e telefonia, gastos com aluguel, manutenção de escritórios e locomoção, auxílios diversos e algumas despesinhas extras. Segundo estudo realizado pela ONG Transparência Brasil em 2007, esse é o custo mais alto para a população em comparação aos parlamentos de 11 países: gastamos R$ 11.545,04 por minuto com os 513 deputados e 81 senadores.
Pagamos mais ou menos a bagatela de R$ 34.000,00 mensais para custear cada um dos deputados estaduais e cerca de uns R$ 8.000,00 mensais para sustentar cada um dos vereadores de nosso próprio município. Damo-nos ao luxo de depositar cinco meses de salário anual no bolso do Governo, pagando mais de oitenta tipos de tributos. E tudo isso ainda não nos impede de pagar nosso próprio plano de saúde, escola privada, plano odontológico, lazer, entre outros – já que não podemos contar com os serviços públicos sempre precários. Coisa de gente rica.
Brasileiro é um povo paciente. Esperamos, no mínimo, seis meses por um atendimento médico nos postos de saúde, sem reclamar. Podemos ter alguma doença terminal, mas, brasileiros que somos, sempre damos um jeitinho de adiar a morte até o dia da consulta. Esperamos pacientemente vinte anos pela solução de alguma pendenga judicial, suportamos toda a ladainha processual, burocracias e audiências infrutíferas. Se a paciência é uma virtude, somos dos povos mais virtuosos do mundo.
Brasileiro é um povo perdoador. Somos capazes de desculpar qualquer traquinagem de nossos representantes no Congresso, no Palácio do Planalto, nas Câmaras e nas Prefeituras, a ponto de reelegermos os mesmos calhordas comprovadamente suspeitos na Justiça... Desde que não possua sentença transitada em julgado, ou seja, sobre a qual não caiba recurso; já que, nestes casos, os direitos políticos do calhorda são suspensos.
Vemos a foto do político nos jornais, na televisão... Às vezes, até a cópia das decisões judiciais, dos pareceres do Ministério Público, mas o absolvemos mesmo assim. Basta uma proposta nova, uma propaganda eleitoral bem elaborada, um botox aqui e ali, para conceder um ar de graça, e não resistimos. O Brasil é o país das segundas chances... E das terceiras, das quartas, das infinitas.
Brasileiro é um povo responsável. Responsável pelas pela sujeira, enchentes nas ruas, pela corrupção generalizada, pelas mortes nos trânsitos. Despejamos lixos nos ambientes públicos com o peito estufado; sempre nos gabando do reconhecido e patenteado “jeitinho brasileiro”, de nossa esperteza e malandragem – essa lábia, essa habilidade finória que nos leva ao desrespeito às leis, a não parar no sinal vermelho, a fechar os cruzamentos, a cometer pequenas-grandes espertezas, à corrupção, a se aproveitar do Estado como se fosse uma grande mãe.
Brasileiro é um povo bem informado. Não graças aos jornais, tampouco os impressos, já que aversão à leitura é nossa marca registrada. Porém televisão, blogs, os twitters da vida prestam-nos um serviço informativo indispensável. Entendemos tudo sobre a vida dos outros (o imaginário do povo, louco por alfinetadas e fabricação de dúvidas sobre a vida alheia, não despreza as oportunidades de fazer as devidas piadinhas); opinamos sobre times de futebol, estamos por dentro de todas as fofocas do momento ainda antes de chegar o momento. Somos tão obcecados por informação, que não é à toa que somos reconhecidos mundialmente como o povo que dedica mais tempo ao acesso à internet. Temos tanto conhecimento das coisas que nem estão ao nosso redor, que mal nossos cérebros assimilam os fatos que realmente vão mexer com a nossa vida. Especialmente com nossos bolsos. Afinal, somos um povo "rico".
Brasileiro é um povo sonhador. Se somos mesmo do tamanho de nossos sonhos, o brasileiro pode se considerar parte de um grande povo. Sabe qual é o dito sonho americano? Alcançar igualdade de oportunidades e liberdade para atingir seus objetivos de vida somente com seu esforço e determinação. Mesquinho. O sonho brasileiro é muito mais alto. Queremos sucesso sem absolutamente nenhum esforço ou determinação. Quem sabe, um pequeno cargo político ou de “confiança” mesmo, para fingir trabalhar por quatro anos, mamar nas tetas do Governo e terminar com um pé-de-meia que nos sustente a vida toda? Falando em sustento, o Bolsa Família bem que precisa ser revisto. Sonhar é isso aí.
Em suma, não temos por que não amarmos o nosso país. Deveríamos andar por aí orgulhosos da nossa condição de brasileiros. O mesmo patriotismo que nos domina durante as Copas do Mundo – até perdermos, é claro – deveria permanecer ileso pelo resto dos anos. O Brasil há mesmo de ser o país do Carnaval, das festas, dos feriados.
Temos razões de sobra para comemorações. Afinal, povo como este não existe em lugar nenhum do mundo.
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                                                                                                                      Texto de Tarcízio Macedo